Jos Henrique Souza 1d3cm
A partir dos argumentos descritos acima, podemos considerar de extrema importncia o desenvolvimento tecnolgico do segmento de bens de capital e o apoio estatal para esse segmento. Assim, perfeitamente conveniente uma poltica de fomento tecnolgico para segmentos da indstria de bens de capital. Porm, preciso considerar as condies e os meios mais apropriados de interveno do Estado e qual a racionalidade e os interesses que estaro envolvidos.
O desenvolvimento das relaes tecnolgicas entre empresas uma vantagem competitiva marcante no processo de globalizao (MCT, 1995: 05). Relaes cooperativas podem favorecer o avano tecnolgico dos fabricantes de bens de capital e o desenvolvimento de novos produtos. Para isso, a capacitao dos fornecedores locais de peas e componentes fundamental. Para ganhar tempo e criar sinergia o Brasil precisaria ter um trabalho em conjunto entre a iniciativa privada e o Estado. Cada um cumprindo seu papel.
Do lado da iniciativa privada preciso que as empresas desenvolvam uma viso de longo prazo do mercado, dos fatores que definiro sua competitividade no mercado global (qualidade, tecnologia, custos, inovao, criatividade na conexo com os clientes) e dos motivos da sua pouca agressividade no mercado mundial.
As empresas brasileiras produtoras de bens de capital esto conscientes dos riscos de concentrar uma poro muito elevada do seu faturamento no mercado nacional. Mas, para romper essa dependncia sabem que necessrio mais investimentos. Para elaborar acordos e parcerias estratgicas internacionais, investir em atualizao tecnolgica e montagem de equipes de engenheiros dedicados P&D, qualificar pessoal em reas-chave (produo, distribuio, tecnologia, novos produtos, gerenciamento da internacionalizao) o universo de desafios e riscos imenso. Para isso, o setor produtivo preciso do apoio estatal.
O Estado brasileiro precisaria se dedicar criao de uma economia competitiva e estvel. Infra-estrutura bsica, legislao adequada, coordenao das diretrizes de competitividade, recursos para financiamento de longo prazo, informaes e servios sobre exportao de bens e importao de tecnologia tambm so novas exigncias.
Ou seja, preciso que cada participante esteja engajado na luta comum pela produtividade. A eficincia de cada unidade produtiva depende das estruturas industrial, setorial e infra-estrutural. Por isso, necessrio confiana, dilogo, metas e um cronograma de atividades envolvendo agncias de fomento, ministrios, universidades, institutos de pesquisas e associaes empresariais. Ou seja, um trabalho gigantesco de mobilizao, coordenao institucional, obteno de recursos e de execuo de poltica.
No Brasil tal planejamento pode se tornar vivel com as novas propostas de “Parceria entre o setor Pblico e o setor Privado PPP” e com o ressurgimento do dilogo entre o governo e a iniciativa privada no mbito da nova Poltica Industrial. mais uma esperana que vem substituir a “Poltica de Investimento e Competitividade” e de “Reintegrao Produtiva” do governo ado[1].
O desafio enorme, principalmente para um governo ainda inexperiente como o atual governo brasileiro. A ttulo de ilustrao podemos imaginar que, no setor eltrico, por exemplo, seria preciso coordenar a poltica e o planejamento energtico com a nova “Poltica Industrial e Tecnolgica”. Ou seja, ser preciso "uma congruncia entre a Poltica e Planejamento Energtico e as aes de desenvolvimento econmico" (Guerra e Gonalves, 1997). Devem-se criar medidas de apoio a setores escolhidos como: incentivos transitrios, protees temporrias e linhas de crdito (Dupas, 1997). Para isso, ser necessrio envolver associaes industriais, empresas estatais de energia como a Eletrobrs[2], as novas agncias reguladoras, as agncias de fomento (FINEP, BNDES), ministrios (Desenvolvimento, Cincia e Tecnologia, Educao, Energia e Relaes Exteriores), universidades e institutos de pesquisas.
Os problemas que o setor de bens de capital deve enfrentar no Brasil (internalizao do ciclo tecnolgico, qualificao do pessoal, modernizao e insero no mercado externo) vo exigir o apoio decisivo do governo. Um apoio, hoje, voltada mais para a evoluo de segmentos j instalados da indstria de bens de capital do que para a simples substituio de produtos importados. Obviamente que ainda necessrio incentivar a implantao de segmentos chaves como as empresas de componentes eletrnicos e de servios de alta tecnologia, estratgicas para a obteno de vantagens competitivas da indstria de bens de capital (Baark, 1991: 908).
Assim, podem-se vincular atores e recursos disponveis com interesses convergentes para promover a ampliao e a modernizao da indstria brasileira de bens de capital. Mas, para isso, o governo dever assumir o papel de catalisador e de redutor de riscos de um ciclo de investimentos e de inovaes tecnolgicas como nunca se viu na indstria de bens de capital do pas.[1] Essa estratgia consistia em abrir o mercado para induzir investimentos estrangeiros em vrios setores da economia. Tal estratgia pode ser confirmada em artigos de economistas do BNDES como Goldenstein, 1997 e Mendona de Barros e Goldenstein, 1997. Uma crtica a essa estratgia pode ser vista em Erber, 1996 e 1997.
[2]Eletrobrs, Holding estatal do setor eltrico que planejou e coordenou os grandes planos de expanso e integrao nacional do sistema eltrico (Mello, 1997).