Espacios. Vol. 34 (5) 2013. Pg. 1 411558 |
A Logstica Reversa e suas Implicaes na Sustentabilidade: um estudo de caso de uma organizao intermediria da cadeia reversa do ramo de sucatas 2u4m2gThe Reverse Logistics and its Implications for Sustainability: a case study of an intermediary organization of the reverse chain that operates in the business of scrap 5v6skCarlos Alberto Frantz dos Santos 1; Milena Gonalves Loureiro 2 y Thiago Silva de Oliveira 3 Recibido: 05-12-2012 - Aprobado: 12-03-2013 |
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RESUMEN: |
ABSTRACT: |
1. Introduo 272e9Ao longo do tempo desenvolveram-se novas formas de sociedade e com elas hbitos de consumo, processos produtivos visando eficincia. Os recursos naturais no eram percebidos como limitantes da produo e o lucro era compreendido como o nico e exclusivo objetivo organizacional. Com a expanso da industrializao surgiram tambm seus efeitos negativos. Atualmente, os recursos ambientais tm importncia latente e ganham dimenso cada vez maior no escopo de preocupaes organizacionais. Com isso, criaram-se conceitos e procedimentos que visem uma sociedade sustentvel e equilibrada, dirimindo esses efeitos antrpicos. Essas prticas ganharam destaque e se mostraram viveis para que haja equilbrio nas dimenses econmicas, ambientais e sociais. Considerando a perspectiva de Keinert (2006), o agravamento dos problemas ambientais est intimamente relacionado com a explorao dos recursos naturais, sendo que a partir de 1970 tem incio uma srie de movimentos ambientais, que ainda hoje desempenham um importante papel em nossa sociedade. Portanto, so fundamentais novos tipos de relaes entre os indivduos e as organizaes com o meio ambiente. H um nmero cada vez maior de meios e prticas que o consumidor pode utilizar para atenuar os impactos de suas aes. Com isso, h presses crescentes sobre as organizaes, destacando-se sua responsabilidade tanto nos seus processos produtivos quanto aps o fim da vida de seus produtos. Desse modo, conhecimentos e prticas que visam minimizar impactos ambientais e criar um fluxo sustentvel de produo, consumo e descarte, tm importncia ascendente. Em relao aos processos de retorno e descarte de resduos, os conhecimentos da Logstica Reversa tm se mostrado adequados por diversos autores (Rogers, Tibben-Lembke, 1998; Gonalves-Dias, Teodsio, 2006; Leite, 2009; Lavez et. al., 2011). Da mesma forma, diversos tipos de organizaes atuam provendo servios logsticos reversos, o que contribui tanto para a minimizao dos impactos ambientais relacionados s quantidades de resduos descartados quanto para o reaproveitamento desses como fonte de matria-prima em novos processos produtivos. Entre esses atores econmicos esto os sucateiros: aqueles que realizam a intermediao entre as organizaes que descartam os resduos e aquelas indstrias que fazem a reciclagem desses materiais. Segundo Costa et al. (2008), os sucateiros procuram facilitar o trabalho das indstrias recicladoras ao coletar, separar, armazenar e enfardar os resduos descartados pelas organizaes geradoras. Dessa maneira, por representar um elo importante da cadeia reversa, a questo a ser discutida nesse artigo : Quais so as relaes existentes entre as atividades logsticas reversas e as trs dimenses da sustentabilidade de uma organizao intermediria da cadeia logstica reversa que atua no ramo de sucatas do municpio de Rio Grande -RS (Brasil)? Para responder a essa questo foi desenvolvido um estudo de caso na Recicladora RG (nome fictcio), uma empresa que realiza a coleta de resduos slidos, em indstrias localizadas no Distrito Industrial da cidade do Rio Grande (RS), para posterior destino a indstrias siderrgicas e /ou comercializao dos equipamentos em condies de reuso. Sendo assim, o objetivo geral desse artigo analisar as relaes existentes entre as atividades logsticas reversas e as trs dimenses da sustentabilidade de uma organizao intermediria da cadeia logstica reversa que atua no ramo de sucatas do municpio de Rio Grande (RS). Os objetivos especficos consistem em: identificar os processos logsticos reversos e, analisar as relaes entre os mesmos e as dimenses ambientais, econmicas e sociais. Visto a relevncia da Logstica Reversa, esse estudo justifica-se ao evidenciar como ocorre o processo de utilizao dessa prtica por uma organizao intermediria, apontando-se sistematicamente as implicaes ambientais, sociais e econmicas decorrentes em sua gesto. Essa pesquisa est estruturada da seguinte forma: a seo dois realiza uma breve reviso dos conceitos de Sustentabilidade e Logstica Reversa, a seo trs apresenta os procedimentos metodolgicos, a seo quatro descreve e analisa o estudo de caso e, por ltimo, a seo cinco, apresenta as consideraes finais. 2. Reviso da Literatura p2krEssa seo apresenta os aportes tericos utilizados nessa pesquisa. Inicialmente realizada uma retomada da evoluo da preocupao ambiental e do conceito de Desenvolvimento Sustentvel e, posteriormente, os conceitos de Logstica Reversa so discutidos. 2.1. Foco empresarial e a evoluo da preocupao ambiental nos cenrios mundial e brasileiro 2q6j6tAcontecimentos histricos trouxeram a percepo de finitude dos recursos naturais e do impacto que isso traz para a sociedade. Eventos de cunho tcnico e cientfico chegaram a conceitos de Sustentabilidade e de Desenvolvimento Sustentvel. A partir da, ascende a importncia de ser sustentvel. Percebe-se um novo tipo de consumidor, mais preocupado com os impactos que suas aes causaro s geraes futuras, novas formas de produo se tornam viveis e, com isso, vantagens competitivas visveis. Do fim do sculo XVIII at o comeo do sculo XX, ocorreu o fenmeno da “Revoluo Industrial”, perodo em que a produo de bens e servios negligenciava os impactos antrpicos que causava ao ecossistema. Segundo Freitag (2011, p.2), “os recursos naturais eram compreendidos como uma fonte inesgotvel de matria-prima para as necessidades dos seres humanos e das empresas, a um custo insignificante ou mesmo nulo”. A Revoluo Industrial tornou os mtodos de produo mais eficientes e os produtos mais baratos, fatores que estimularam o consumo. Em contraponto, a poluio e o nmero de desempregados aumentaram, juntamente com o crescimento desordenado das cidades. A partir do ps Segunda Guerra Mundial at o final da dcada de 60, os debates sobre crescimento econmico restringiam-se a assuntos diretamente relacionados ao ganho ou incremento de capital. Segundo Souza (1993, p.41), “no havia discriminao na utilizao dos conceitos de crescimento e desenvolvimento, eram considerados sinnimos e sua utilizao demandava definies apropriadas”. Sendo assim, estabeleceu-se, conforme Souza (1993, p.41), que “crescimento econmico entendido como o crescimento contnuo do produto nacional em termos globais ao longo do tempo”. Para a mesma autora, “desenvolvimento econmico representa no apenas o crescimento da produo nacional, mas, tambm, a forma como essa distribuda social e setorialmente”. Desenvolvimento econmico , portanto, a combinao de crescimento com distribuio de renda. Acrescenta-se que, crescimento e desenvolvimento econmico no esto obrigatoriamente correlacionados, pois pode haver o primeiro sem que haja o segundo, sendo impossvel o oposto. A expresso Desenvolvimento Sustentvel comeou a ser utilizada nos anos 70 vinculada ao paradigma concernente defesa do desenvolvimento humano. Porm, somente na dcada de 80 que ganhou uma primeira definio concreta, de acordo com Souza (1993, p. 45), "para ser sustentvel, o desenvolvimento precisa levar em conta fatores sociais e ecolgicos, assim como econmicos; as bases econmicas, as bases dos recursos vivos e no-vivos, as vantagens e desvantagens de aes alternativas, a longo e a curto prazo”. Essa definio apresentada no documento Estratgia de Conservao Mundial: Conservao dos Recursos vivos para o Desenvolvimento Sustentvel, segundo Souza (1993, p. 45). Nesse documento, so expostos os trs pilares sobre os quais se assentam o Desenvolvimento Sustentvel: econmico, social e ambiental. O Desenvolvimento Sustentvel se difere do desenvolvimento econmico por ampliar o conceito de capital, no paradigma do Desenvolvimento Sustentvel, capital pode ser humano, social e ambiental, j para o desenvolvimento econmico, h somente capital econmico. Em 1987 divulgou-se o relatrio: “Nosso futuro comum”, tambm conhecido como “Relatrio Brundtland”, o documento apresentou a elaborao de uma nova definio para o conceito de desenvolvimento sustentvel. Souza (1993, p.45), citando o Relatrio Brundtland, faz referncia esse novo conceito, sendo "aquele que atende s necessidades do presente sem comprometer as geraes futuras de atenderem as suas prprias necessidades”. Em 1988 entrou em vigor a nova Constituio Federal, nela a preocupao ambiental ganhou destaque. De acordo com Schrder et al. (2011, p.15), a nova constituio de 1988 “erigiu categoria de direito fundamental, assegurando o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, ando-se a exigir certas ressalvas ou ponderaes em prol da preservao ambiental, ratificando-se com isso, a ideia de Desenvolvimento Sustentvel”. Ou seja, segundo a carta magna do pas, o Desenvolvimento Sustentvel deve ser garantido e ter relevncia acentuada, pois, possui como um de seus vieses a Sustentabilidade, que fica obrigatria de existir, na forma de ambiente equilibrado. No Brasil, segundo Layrargues e Amaral apud (Arajo, Mendona, 2009, p.37), a “preocupao ambiental ou, gradativamente, a ser encarada como uma necessidade de sobrevivncia, diferenciando as organizaes em termos de poltica de marketing e de competitividade no mercado.” Sendo assim, os ganhos ao se tornar sustentvel so diversos: minimizao de custo pela reutilizao de material, reduo de aquisies de matrias-primas, melhoria na imagem da empresa como empresa social e ambientalmente responsvel, diminuio de emisso de resduos ao meio-ambiente, gerao de emprego e renda, entre outras. Tanto os governos quanto as empresas possuem mecanismos de obter vantagem competitiva atravs da cooperao e cuidados para a reduo da degradao do meio ambiente. A evoluo do pensamento sustentvel, que parte da esfera pblica, cabendo a cada nao promover o Desenvolvimento Sustentvel em seu territrio, chega s organizaes privadas, uma vez que os clientes, cada vez mais exigentes, demandam uma posio mais responsvel das empresas. Nesse enredo, emerge o conceito de Sustentabilidade Empresarial, a qual composta de aes que procuram a reduo de impactos ambientais e a promoo de programas sociais, mantendo-se economicamente vivel no mercado. Embora vrios eventos e estudos tenham discutido a importncia da Sustentabilidade e do Desenvolvimento Sustentvel, a definio desses conceitos ainda obscura, dependendo de interesses polticos e econmicos que variam regionalmente. Segundo Siena (2008, p. 359), “materializar o conceito de Desenvolvimento Sustentvel um problema complexo, pois as bases conceituais sobre as questes envolvidas no esto consolidadas”. Por fim, segundo Mello et al. (2011, p.74), o novo milnio um perodo que tem por caracterstica a “reflexo dos valores ticos tanto nas organizaes como na sociedade. Tal mudana traz tona discusses relacionadas ao desenvolvimento de estratgias e a preocupao com a soluo de problemas socioambientais urgentes”. Assim, torna-se imprescindvel o desenvolvimento de mtodos para alcanar as metas estabelecidas globalmente em acordos, eventos e em legislaes regionais que tm por objetivo o Desenvolvimento Sustentvel. Alm disso, tambm so necessrios instrumentos que visem, com base na Sustentabilidade, vantagem competitiva e lucro para as organizaes. 2.2. Logstica Reversa 31a4lA logstica reversa teve seu primeiro conceito nos anos 80, como sendo o movimento de bens do consumidor para o produtor (Rogers, Tibben-Lembke, 2001). Nos anos 90, esse conceito ganhou um novo enfoque, quando Stock (1992) incorporou ideias como: reduo dos custos, reciclagem e aes para substituies de materiais, reutilizao de materiais, disposio final dos resduos, reaproveitamento, reparao e remanufatura dos materiais. Ainda nessa dcada, Carter e Ellram (1998) abordam a Logstica Reversa incluindo a temtica da eficincia ambiental. Paralelamente a essa evoluo, possvel retratar uma ampliao dos conceitos logsticos, uma vez que aquele conceito fragmentado de transporte, estoque e armazenagem, predominante h algumas dcadas, cede espao para um conceito de logstica integrado (Gomes, Ribeiro, 2004). Delimita-se assim, o formato ado da definio de logstica, sendo que agora esse conceito torna-se mais amplo e integrado. Ao retomar a citada preocupao da sociedade, das organizaes e dos indivduos com os fatores ambientais, sociais e econmicos, possvel estabelecer uma relao entre a Logstica Reversa com os conceitos de Desenvolvimento Sustentvel. A crescente conscientizao da populao quanto preservao do meio ambiente e contra o desperdcio de recursos naturais, so alguns fatores que impulsionam a Logstica Reversa. As recentes preocupaes sobre os impactos ambientais provocados, tanto por processos produtivos quanto pelos produtos, so cada vez mais justificadas. nesse contexto que a Logstica Reversa pode contribuir, estruturando canais de distribuio reversos (Leite, 2009). Diante disso, a Logstica Reversa surge como uma ferramenta que pode ser til no equilbrio dos excessos residuais de bens de ps-consumo e seus respectivos impactos provocados no meio ambiente. Essa preocupao das organizaes em se adequar ao novo ambiente emergente acontece devido imagem corporativa que ela quer refletir para a sociedade, s legislaes pertinentes rea e possvel lucratividade que a organizao poder obter. Dessa forma, a varivel ambiental, estendendo-se tambm social, fator de extrema relevncia nos dias de hoje, sendo inclusive aspecto de influncia no sucesso das empresas. Dentro dessa perspectiva, os lderes e executivos empresariais esto incluindo cada vez mais essas variveis em suas misses organizacionais. Os investidores procuram empresas consideradas ticas. Os consumidores, motivados pelo o informao e pela proximidade dos problemas ambientais, tambm buscam por organizaes que oferecem produtos e servios que possam diminuir esses impactos. Seguindo essa percepo possvel relacionar Logstica Reversa alguns fatores ambientais, demonstrados no quadro 01.
Quadro 01- Fatores Ambientais e Justificativas relacionadas utilizao da Logstica Reversa. Mesmo antes das obrigaes estabelecidas pelas legislaes, algumas organizaes tm buscado ser proativas a respeito de sua responsabilidade socioambiental, pois isto se caracteriza como um fator de diferencial competitivo. So empresas que buscam parcerias na sua cadeia de suprimento e distribuio, diminuindo assim, os impactos negativos para com o meio ambiente. Portanto, as empresas que querem sobreviver nesse contexto precisam, no apenas se adequar, mas, tambm, inovar no aspecto socioambiental. Dessa maneira, a Logstica Reversa pode ser uma ferramenta importante no processo de responsabilidade socioambiental das organizaes. Entendendo o objetivo da Logstica Reversa como “o retorno dos bens ou de seus materiais constituintes ao ciclo produtivo ou de negcios” (Leite, 2009, p.17), pode-se dizer que a mesma contribui para a diminuio dos impactos negativos sobre o meio ambiente. Nesse sentido, a Logstica Reversa vem ao encontro da reutilizao, do reaproveitamento, das reciclagens, dos reprocessamentos, da recuperao, entre outros, que reduzem a inutilizao dos resduos e auxiliam num ambiente mais limpo e, por consequncia, mais saudvel, refletindo em bem-estar social. Porm, para que a adequada utilizao dos canais reversos se materialize, necessria uma verdadeira ao conjunta de todos os atores da cadeia de suprimentos, formando parcerias, realizando projetos, conscientizando e educando os cidados. De acordo com Leite (2009), o canal de distribuio reverso de ps-consumo composto por diferentes formas de processamento e de comercializao dos produtos de ps-consumo ou de seus materiais constituintes. Esses canais so constitudos pelo fluxo reverso de uma parcela de produtos e de materiais constituintes originados no descarte dos produtos, uma vez que, depois de finalizada a sua utilidade original, retornam ao ciclo produtivo. H trs tipos desse canal: o reverso de reuso, o reverso de remanufatura e o reverso de reciclagem. J os canais de distribuio reversos de ps-venda, so constitudos pelas diferentes formas e possibilidades de retorno de uma parcela de produtos, com pouco ou nenhum uso, que fluem no sentido inverso, do consumidor ao varejista ou ao fabricante, do varejista ao fabricante, entre as empresas. A rea de atuao da Logstica Reversa apresentada por Leite (2009), de acordo com a figura 01, a qual sintetiza as principais fases dos fluxos reversos do ps-consumo e ps-venda. Compreendem-se na figura sua interdependncia e diferentes etapas, classificadas conforme a motivao de seu retorno. O canal reverso de reuso aquele em que se tem a extenso do uso de um produto de ps-consumo ou de seu componente, com a mesma funo para a qual foi originalmente concebido, ou seja, sem nenhum tipo de remanufatura CLM apud (Leite, 2009). J o reverso de remanufatura, o canal em que os produtos podem ser reaproveitados em suas partes essenciais, mediante a substituio de alguns componentes complementares, reconstituindo-se um produto com a mesma finalidade e natureza do original. E, ainda, o reverso de reciclagem, que se define como canal de revalorizao em que os materiais constituintes dos produtos descartados so extrados industrialmente, transformando-se em matrias-primas secundrias ou recicladas, que sero reincorporadas fabricao de novos produtos. Os canais reversos de ps-venda so motivados por problemas relacionados qualidade em geral ou a processos comerciais entre empresas, retornando ao ciclo de negcios de algum modo. Os problemas mais comuns so: avarias no transporte, defeitos no produto, erros no pedido, excessos de estoques, fim de estaes, fim de vida comercial do produto dentre outros (Leite, 2009). Esses canais esto ganhando cada vez mais importncia, tanto no aspecto estratgico como econmico das organizaes. Figura 01. Foco de atuao da Logstica Reversa 3. Procedimentos Metodolgicos 2d6x28Para atingir os objetivos propostos nessa pesquisa, que considerada qualitativa e de cunho exploratrio (Gil, 1994), foi realizado um estudo de caso (Yin, 2001). A organizao foco desse estudo, Recicladora RG (nome fictcio), foi selecionada por atuar desde 2001 com processos logsticos reversos na cidade de Rio Grande - RS (Brasil), promovendo alternativas de descarte de resduos industriais. Alm disso, a empresa utiliza como forma de marketing as relaes existentes entre suas atividades e os conceitos de Meio Ambiente e Logstica Reversa. Os dados foram coletados atravs da realizao de duas entrevistas semiestruturadas com dois Scios-Diretores da Recicladora RG. As entrevistas tiveram durao mdia de 40 minutos e procuraram coletar informaes referentes s atividades da empresa, seu mercado de fornecedores e clientes, os processos logsticos reversos utilizados (relacionados s atividades de coleta, de transporte, de armazenagem temporria e de destinao final) e, ainda, as relaes entre esses processos e atividades com as trs dimenses do Desenvolvimento Sustentvel: social, econmica e ambiental. A coleta de dados foi complementada com os mtodos observacional e documental, pois, os mesmos deram uma viso mais ampla acerca do trabalho realizado pela empresa (Yin, 2001). As tcnicas de anlise dos dados foram a Anlise de Contedo, proposta por Bardin (2004), juntamente com a tcnica da triangulao dos dados, o que foi possvel em funo das diferentes formas de coleta de dados primrios e secundrios. 4. Descrio e Anlise dos Resultados 3z4229Essa seo apresenta inicialmente os processos logsticos reversos e, posteriormente, analisa as relaes entre esses processos e as dimenses ambientais, econmicas e sociais. 4.1 Os Processos Logsticos Reversos 4k5l60A Recicladora RG iniciou suas atividades em 2001. Na busca por uma opo de servio diferenciada, os scios fundadores da empresa analisaram vrios empreendimentos da regio para escolher uma atividade inovadora no municpio de Rio Grande (RS). Analisando-se, os recursos que os scios possuam, percebeu-se a possibilidade de investir em uma empresa intermediria no ramo de sucatas na cidade de Rio Grande. Sendo assim, montou-se a empresa, que a princpio trabalhava com todos os tipos de materiais reciclveis. Em 2012, a empresa tem como objetivos a coleta, a classificao e a separao de metais ferrosos e no ferrosos do Distrito Industrial de Rio Grande. Aps essas atividades, os resduos so destinados para siderrgicas, onde so utilizados como matria-prima em seus processos produtivos. Atualmente, a empresa desempenha atividades de arrecadao de resduos slidos de empresas localizadas no Distrito Industrial de Rio Grande, por meio de frota prpria de caminhes e caambas de entulho. O maior fornecedor da empresa (responsvel por aproximadamente 95% dos materiais enviados) a Yara Brasil, indstria de fertilizantes, e seus resduos provm de refugos oriundos de manutenes peridicas. H tambm uma ampla gama de fornecedores secundrios, os quais seriam pessoas fsicas, que levam empresa materiais veis de reciclagem (cascote, madeira, metais, etc.), e uma restrita quantidade de catadores e carroceiros para vender materiais coletados nas ruas do municpio. Como fornecedores secundrios h tambm outras empresas, as quais apresentam diferentes atividades-fins, ou seja, h grande diversificao de fornecedores que so responsveis pelo envio de uma pequena parcela dos resduos recebidos pela Recicladora RG. Os principais fornecedores industriais secundrios da empresa enviam materiais em determinadas pocas, incorrendo em grande ndice de sazonalidade e sendo considerados de maneira menos relevantes pelos scios da empresa. Para o recolhimento dos resduos so colocadas caambas de entulho nas organizaes fornecedoras, que por meio de acordos definem se haver pagamento de aluguel das mesmas, ou se a Recicladora RG se ausenta de pagar alguma matria-prima em troca do valor. No momento da coleta dos materiais so observadas s especificaes de cada tipo de veculo e, dessa forma, realizado o carregamento de um conjunto caracterstico de subprodutos A Recicladora RG atua com resduos de Classe 2, ou seja, aqueles que so veis de reciclagem e remanufatura. Na sede da empresa ocorrem dois processos, classificao da submatria em grandes grupos, como metais, madeiras e entulhos. Aps, os materiais so separados em subgrupos, como, por exemplo, os metais em ferrosos e no ferrosos, terminado esse processo, realizada a separao dos resduos. Nessa etapa, eles so classificados em reaproveitveis, em condies de uso, no utilizveis e sem condies de uso. O armazenamento temporrio ocorre com a separao e classificao dos materiais no estado em que chegaram empresa, e aps colocando-os em local pr-determinado. Os materiais mais frgeis so colocados em locais protegidos de intempries climticos, j aqueles mais resistentes, ficam a exposio do tempo, porm, com a proteo do solo feita por piso ou rea protegida. Os materiais no costumam ficar muito tempo na empresa, pois, h um controle da rotatividade. A partir da separao dos materiais recolhidos, a empresa destina os metais ferrosos e metais no ferrosos reaproveitveis para indstrias siderrgicas, as quais transformam o subproduto em matria-prima em seus processos produtivos. Nesse exemplo, os custos de transporte so de responsabilidade da prpria indstria siderrgica. Os materiais que no so destinados para essas indstrias (subprodutos no ferrosos) so colocados venda, na sede da Recicladora RG. O pblico alvo desses materiais so pessoas fsicas ou jurdicas que procuram refugo, para pequenas obras ou reparos, retornando ao mercado como matria-prima. Em contrapartida, os insumos no aproveitados por apresentar agentes contaminantes, so encaminhados para aterros sanitrios, sem custos a empresa, pois, so tratados como se fossem resduos domsticos. . A figura 02 demonstra o fluxo dos processos apresentados pela Recicladora RG. Figura 02 – Fluxo dos processos de trabalho da Empresa Recicladora RG Portanto, a anlise dos processos de coleta e destino da empresa Recicladora RG permite enquadrar suas atividades na Logstica Reversa como resduos industriais e tambm de ps-consumo, segundo tipologia de Leite (2009). Essa classificao se d, principalmente, porque a empresa utiliza como matria principal resduos industriais e subprodutos de outras organizaes, fazendo com que esses materiais integrem parte do ciclo de trabalho da empresa, sendo destinados posteriormente para a reciclagem, reuso ou destinao final em aterros sanitrios. A descrio das atividades da Recicladora RG tambm remete ao modelo de Leite (2009) ao identificar a rea de atuao da empresa como intermediria entre os geradores de resduos e aquelas organizaes que atuam nos processos de reciclagem e reutilizao desses materiais. 4.2 Anlise das Relaes entre os Processos Logsticos Reversos e Sustentabilidade 451f3tA Logstica Reversa da Recicladora RG proporciona reduo dos impactos negativos no meio ambiente em nvel local e regional. Os insumos recolhidos localmente alimentam linhas de produo industriais que, de outra forma, precisariam de matria-prima virgem, incidindo em novas extraes de recursos ambientais e danos, causados pela poluio gerada no processo de extrativos. H tambm reduo de resduos nos aterros da cidade, pois, esses locais recebem apenas aqueles materiais que no tm outras utilidades. Considerando as atividades atuais da organizao pode-se ressaltar a dimenso econmica que a comercializao de resduos s indstrias siderrgicas proporciona. Esses resduos industriais am novamente a ser insumos, propiciando reduo de custos com a aquisio de matrias-primas virgens para essas indstrias siderrgicas, alm do j citado aspecto ambiental dessa ao. H tambm vantagem competitiva, primeiro em decorrncia do preo de aquisio do resduo ser inferior ao da matria-prima virgem, gerando assim, reduo dos custos, e, em segundo, porque as empresas que utilizam material reciclado nos seus processos produtivos podem vincular sua imagem como ambientalmente responsvel. Para as empresas fornecedoras de resduos destaca-se a reduo dos custos com o transporte para a destinao final dos mesmos, uma vez que, de outra forma, essas empresas teriam que arcar com esses custos em funo de suas obrigaes legais. Outro aspecto considerado, tanto econmico como social e ambiental, a venda dos produtos que no vo para as siderurgias no mercado local, como telhas, tijolos, canos de ferro, cantoneiras, pedaos de madeira e canos de plstico. Com isso possvel oferecer vantagem econmica aos indivduos que, de outra forma, teriam custos mais elevados para realizar pequenos reparos ou obras, alm de reduzir os impactos negativos no meio ambiente. Dentre os aspectos sociais que a atividade da Recicladora RG gera pode-se considerar a gerao e manuteno de emprego e renda a pessoas com baixo grau de escolarizao. Alm disso, houve conscientizao da vizinhana sobre os trabalhos que a empresa executa ao mesmo tempo em que ocorreu uma mudana do foco das atividades desempenhadas anteriormente, diminuindo o fornecimento de resduos por catadores, com vistas a no gerar descontentamento nos moradores da vizinhana. Para as anlises foram consideradas as prticas da empresa, relacionadas a cada uma das dimenses da sustentabilidade, conforme dados apresentados no Quadro 02.
Quadro 02 – Sntese dos Benefcios Ambientais, Sociais e Econmicos Fazendo-se uma breve comparao do Quadro 02 – Sntese dos Benefcios Ambientais, Sociais e Econmicos- referente s atividades realizadas pela empresa, tanto na primeira fase como na segunda, com os aspectos mencionados no Quadro 01 - Fatores Ambientais e Justificativas relacionadas utilizao da Logstica Reversa - pode-se afirmar que a empresa intermediria da cadeia de logstica reversa atinge os cinco fatores mencionados por Liva et al. (apud Abreu et al., 2011): Proteo ao meio ambiente, Diminuio dos custos, Melhora da imagem da empresa perante o mercado, Relao custo/benefcio vantajosa e Aumento significativo nos lucros da empresa. Quando a Recicladora RG realiza suas atividades contribui para a preservao de recursos ambientais, ou seja, protege o meio ambiente, pois incentiva a reciclagem e a reutilizao de produtos, diminuindo a quantidade final de resduos. Quando a Recicladora RG comercializa os resduos reciclveis para as organizaes que utilizaro esses em seus processos produtivos h uma diminuio de custos para essas organizaes compradoras. Essas empresas compradoras tambm podero se utilizar de uma imagem positiva, como ambientalmente responsvel. Portanto, a Logstica Reversa, se bem implementada, como no caso pesquisado, gera uma relao custo/benefcio vantajosa para todos os envolvidos, aumentando principalmente os lucros da empresa compradora. 5. Consideraes Finais 232x28As mudanas que ocorreram em mbito global provocaram modificaes nas relaes entre indivduos e organizaes e dessas para/com o meio ambiente. No que se refere produo e ao consumo em massa, cada vez mais discutido os problemas que acarretam ao ecossistema. Em virtude disso, imprescindvel o desenvolvimento de aes para estimular a responsabilidade das empresas sobre o fim da vida de seus produtos. Percebe-se, um discurso de consonncia entre os objetivos empresariais, a preservao ambiental e os aspectos sociais, dando face figura da Sustentabilidade. A relevncia da implantao da Logstica Reversa no ciclo produtivo das empresas para que se consiga alcanar esses objetivos tem se mostrado crescente. No entanto, nota-se grande vinculao desses objetivos a metas estabelecidas na legislao ambiental e no necessariamente a pro-atividade empresarial advinda da conscientizao ambiental. Porm, possvel obter benefcios econmicos com a utilizao de resduos que retornam ao processo produtivo, resultado da ascendncia da conscientizao ambiental por parte dos consumidores aliado a diferenciao dos servios oferecidos pelas organizaes. Diante da anlise realizada, constata-se que a empresa Recicladora RG promove a Sustentabilidade. Primeiramente, por seus processos de recolhimento de resduos slidos das empresas atenderem a uma especificao da legislao ambiental. Alm disso, ao classificar e separar os materiais permite sua melhor destinao aos aterros sanitrios ou, s siderrgicas, e aqueles resduos que ainda podem ser reutilizados so comercializados no mercado local. Retornando ao conceito de Sustentabilidade, visualizou-se a contribuio da Recicladora RG para a diminuio de impactos ambientais, recolocando no ciclo produtivo materiais que poderiam ter sido descartados, reduzindo a aquisio de matrias-primas novas por indstrias siderrgicas. J na dimenso social, ocorre a gerao de emprego e renda. Outro aspecto a ser considerado, que os resduos de outras empresas geram lucros para a Recicladora RG, alm da venda e da compra de materiais criarem um fluxo que movimenta a economia em nvel municipal, regional e estadual, por meio disso, promove o pilar econmico. Portanto, a Recicladora RG evidencia-se como atendente dos princpios da Sustentabilidade. Sendo assim, ao responder o problema de pesquisa, ficam evidentes as relaes existentes entre as atividades Logsticas Reversas e as trs dimenses da Sustentabilidade da Recicladora RG, que atua como intermediria no ramo de sucatas do municpio de Rio Grande (RS). A empresa pode ser considerada sustentvel e contribui para a promoo da sustentabilidade no meio em que est inserida. Por fim, conclui-se que os objetivos propostos foram alcanados. Sobre as limitaes, esta pesquisa focou apenas no trip da sustentabilidade de forma geral, por exemplo, no foi considerada a contabilidade da empresa e sua ligao com o aspecto econmico da Sustentabilidade, nem a colaborao dos membros da Cadeia de Suprimentos, podendo esses aspectos, que aqui so limitaes, serem sugeridos para posteriores pesquisas. Tambm se pode sugerir a comparao desse caso com outros estudos realizados com empresas do mesmo ramo ou diferentes, que utilizem o mtodo da Logstica Reversa. Logo, o presente trabalho poder servir de base para outros estudos acadmicos, tanto como referencial terico, quanto de forma didtica. Alm disso, possvel se utilizar dessa pesquisa como apoio para profissionais ou empresas, que j trabalham ou querem se inserir na rea de Logstica Reversa. Referncias 1l2w3pAbreu, A. De, Armond-De-Melo, D. R.; Leopoldino, C. B. (2011); “Entre fluxos e contra fluxos: um estudo de caso sobre logstica e sua aplicao na responsabilidade socioambiental”, Revista Eletrnica de Cincia istrativa.10 (1), p. 84-97 Arajo, G. C.; Mendona, P. S. M. (2009); “Anlise do Processo de Implantao das normas de sustentabilidade empresarial: um estudo de caso em uma agroindstria frigorfica de bovinos”, Revista de istrao Mackenzie. 10 (2), p. 31-56. Bardin, L. (2004); Anlise de Contedo. 3 ed. Lisboa: Edies 70. Carter, C. R.; Ellram, L. M. (1998); “Reverse Logistics: A Review of the Literature and Framework for Future Investigation”. Journalof Business Logistics. 19(1), p. 85-102. 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1Universidade Federal de Rio Grande (FURG), Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil ([email protected]) |
Vol. 34 (5) 2013
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