Espacios. Vol. 33 (11) 2012. Pg. 11 5c1c29 |
Determinantes da inovao: estudo de caso em uma organizao brasileira de software 4q551uDeterminants of innovation: a case study in a Brazilian organization of software 1yk4wAdriano Olmpio Tonelli 1, Andr Luiz Zambaldev 2, Cristina Lelis Leal Calegrio 3 y Paulo Henrique de Souza Bermejo 4 Recibido: 01-03-2012 - Aprobado: 12-06-2012 |
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RESUMO: |
ABSTRACT: |
1. Introduo 563dvA inovao est no centro do desenvolvimento das firmas do setor de software (Trippl et al., 2009). Trata-se de uma indstria intensivamente baseada em conhecimento (Mathiassen,Pourkomeylian, 2003; Metha, 2008) e tipicamente schumpeteriana, cujos direcionadores da competio caracterizam-se por baixas barreiras entrada, custos marginais mnimos, rpidas e constantes inovaes e proliferao de novos empreendimentos (Giarratana,Fosfuri, 2007). Para firmas do setor de software, inovar compreende uma capacidade importante no apenas para o crescimento, mas tambm para sobrevivncia. Numa indstria com altas oportunidades tecnolgicas, baixas condies de apropriabilidade e altos nveis de transbordamento, vantagens competitivas e posies de mercado tornam-se frgeis e de curto prazo (Dosi,Nelson, 1994; Giarratana,Fosfuri, 2007; Nieto,Quevedo, 2005; Romero,Martnez-Romn, 2011; Roper et al., 2008) . Alm disso, o carter intelectual e intangvel de produtos de software e a caracterizao dessa indstria demandam das firmas grande concentrao de pessoal qualificado e know-how, alm de capacidades de gerao interna de conhecimentos e de absoro de insumos desenvolvidos no ambiente externo (Hernndez-Espallardo et al., 2011; Lichtenthaler,Lichtenthaler, 2009; Nieto,Quevedo, 2005; Trippl, et al., 2009; Varis,Littunen, 2010) . Nesse sentido, a capacidade de gerao constante de novos produtos, servios e processos de software est no centro de estratgias de grande parte das empresas de software, o que demanda o conhecimento das diferentes fontes necessrias gerao dessas inovaes. Com vistas a aprimorar a compreenso dos determinantes da inovao, estudos (Aaen, 2008; Castellacci,Zheng, 2010; Corbin et al., 2007; Huber, 2011; Romijin,Albaladejo, 2002; Trippl, et al., 2009) tm se concentrado em investigar uma srie de fatores que se configuram como entradas para processos de inovao em firmas de base tecnolgica, incluindo empresas de software. De modo geral, determinantes da inovao podem ser classificados sob duas dimenses: uma estrutural (externa), relacionada a fatores da indstria e do ambiente externo firma, e outra interna, associada s capacidades internas da firma para o desenvolvimento de inovaes (Romero,Martnez-Romn, 2011; Vega-Jurado et al., 2008). Fatores internos e externos compreendem dois nveis que, embora distintos, possuem importantes complementaridades no que tange determinao da capacidade inovadora (Kramer et al., 2011; Roper, et al., 2008). Em sntese, a capacidade da firma se apropriar de fatores externos necessrios inovao funo das capacidades internas previamente desenvolvidas (Cohen,Levinthal, 1990; Nieto,Quevedo, 2005; Zahra,George, 2002) . O processo de inovao caracteriza-se, portanto, por mltiplas combinaes de fatores internos e externos firma, gerando diferentes configuraes e relacionamentos dentro das firmas. Dessa forma, este trabalho apresenta a seguinte questo de pesquisa: como se configuram e relacionam os diferentes determinantes de inovao em software? Partindo da premissa de que existem complementaridades entre determinantes internos e externos para a inovao, este trabalho parte de uma abordagem qualitativa e longitudinal para investigar a configurao e relacionamento dos diferentes determinantes da inovao em uma firma de pequeno porte que atua no setor de software. A opo pela abordagem qualitativa e longitudinal direciona a pesquisa para uma compreenso mais aprofundada sobre o campo de estudo em questo (Miles,Huberman, 1994; Yin, 2009). No contexto desta pesquisa, tal caracterstica possibilita uma investigao sobre o papel que determinantes da inovao desempenham ao longo do tempo. Alm disso, tal como ressaltam Malhotra e Birks (2007) e Miles e Huberman (1994), o uso da metodologia proposta possibilita ainda iluminar e aprofundar resultados obtidos a partir de pesquisas quantitativas acerca de correlaes entre determinantes da inovao e resultados de gerao de novos produtos nas firmas. Tal opo condizente com a premissa de Teece (2007) segundo o qual frameworks ortodoxos no conseguem explicar como e porque ativos intangveis, tais como know-how, tecnologias e recursos humanos, so crticos para a inovao nas firmas. Na medida em que a inovao em software configura-se como um processo envolvendo essencialmente conhecimento, essa premissa mostra-se adequada pesquisa. O restante deste artigo est organizado da seguinte forma. A seo 2 apresenta os conceitos fundamentais sobre inovao. Esses conceitos serviro como fundamento para desenvolver o modelo conceitual proposto para a pesquisa. A seo 3 apresenta o modelo terico proposto para a investigao. Desenvolvido com base na literatura, esse modelo aborda a integrao entre determinantes internos e estruturais para a gerao da inovao. A seo 4 apresenta os resultados obtidos a partir do estudo de caso e, por fim, a seo 5 apresenta as concluses, limitaes e proposta de trabalhos futuros. 2. Fundamentos da inovao 2m5k6yNa indstria de software, pode-se conceituar a inovao como um processo destinado a desenvolver e introduzir no mercado: i) novas caractersticas e aplicaes para produtos ou processos de software existentes; ii) um novo produto, processo ou servio de software; iii) melhorias em geraes anteriores de produtos e processos de software (Lippoldt,Stryszowski, 2009). A definio supracitada enfatiza alguns dos aspectos fundamentais relativos inovao, especialmente quando se olha para ela sob uma tica neo-schumpeteriana. Em primeiro lugar, cabe ressaltar o carter incerto que envolve o desenvolvimento e uso de inovaes (Teece, 1996), dada a racionalidade e aprendizado limitados dos agentes envolvidos em processos de desenvolvimento de novos produtos, processos ou servios (Dosi,Nelson, 1994). Diante desse contexto, o desenvolvimento de inovaes envolve a busca, experimentao e aprendizado contnuos sobre oportunidades tecnolgicas e de mercado (Arrow, 1962; Dosi,Nelson, 1994; Heiskanen,Heiskanen, 2011; Teece, 1996) . Na medida em que envolve processos contnuos de experimentao, tentativa e erro, o desenvolvimento de inovaes caracteriza-se como dependente de trajetrias (Dosi,Nelson, 1994; Teece, 1996). A atual capacidade da firma em inovar dependente das capacidades acumuladas ao longo do tempo (Cohen,Levinthal, 1990; Dosi,Nelson, 1994). Terceiro, a inovao consiste num processo intensivamente baseada em conhecimento (Darroch,McNaughton, 2002; Wallin,Von Krogh, 2010). Especificamente, conhecimentos tcitos adquiridos a partir de experincias desempenham papel central para o desenvolvimento de inovaes (Nonaka,Tackeuchi, 1997), o que colocam know-how e pessoas qualificadas entre os principais ativos necessrios criao de capacidade inovativa nas firmas (Teece, 1996). A centralidade do conhecimento implica ainda em duas outras importantes caractersticas para a inovao: interrelaes e inapropriabilidade. Teece destaca as interrelaes como propulsoras para a construo iterativa de novas solues (Teece, 1996). Sob essa tica, ambientes propcios inovao podem ser construdos a partir do engajamento de diferentes agentes, tais como clientes, unidades de produo, marketing e vendas, em prticas comuns, de modo a proporcionar trocas de conhecimentos e experincias (Newell et al., 2009). Quanto inapropriabilidade, cabe destacar que sistemas legais de patentes e propriedade intelectual nem sempre garantem retornos para criadores de inovaes. Isso ocorre porque o conhecimento tcnico altamente fluido, com alta propenso de transbordar para alm das fronteiras da firma e proporcionar apropriao por parte de terceiros (Segarra-Blasco,Arauzo-Carod, 2008; Teece, 1996; Vega-Jurado, et al., 2008) . As caractersticas supracitadas fazem da inovao um grande desafio para as firmas. Embora tenha grande potencial de conferir vantagens competitivas, transformar mercados e provocar mudanas no status quo, inovaes envolvem inmeras incertezas e capacidades no triviais. Nesse sentido, conhecer alguns dos determinantes de resultados de inovao consiste num importante o em direo compreenso dos mecanismos que levam as firmas a obterem vantagens competitivas e diferenciao em relao ao mercado. Na seo seguinte, ser apresentado o modelo conceitual proposto para investigao das fontes de inovao, considerando resultados relatados na literatura. 3. Modelo conceitual: determinantes da inovao 232y1uCom vistas a investigar como diferentes fontes se relacionam para a gerao de inovao em firmas de software, o modelo conceitual proposto (figura 1) considera a integrao entre fatores estruturais e capacidades internas da firma como aspectos ligados aos resultados de inovao. Tal premissa consistente com diversos trabalhos desenvolvidos na literatura, tais como Cohen e Levinthal (1990), Romero e Martnez-Romn (2011). Roper et al. (2008) e Varis e Littunen (2010). No nvel da indstria e do ambiente externo firma, diversos determinantes da inovao tm sido destacados. A presena de fontes externas de conhecimentos provenientes de: universidades e centros de pesquisa (Palmberg, 2006), associaes de firmas e de profissionais (Varis,Littunen, 2010), clientes, usurios, competidores e parceiros de negcio (Brait, 2004; Palmberg, 2006; Romijin,Albaladejo, 2002; Roper, et al., 2008; Souitaris, 2002) configura-se como importantes para a construo de externalidades positivas e transbordamentos que podem ser utilizados para a gerao de inovaes (Huber, 2011). Adicionalmente, foras de mercado, trajetrias tecnolgicas, condies de apropriabilidade e presses competitivas tm sido apontadas como importantes gatilhos para o processo de inovao (Castellacci,Zheng, 2010; Palmberg, 2006; Roper, et al., 2008; Vega-Jurado, et al., 2008) . No nvel da firma, capacidades organizacionais tais como competncias tecnolgicas, conhecimento de mercado, nvel educacional e experincia de colaboradores, perfil do empreendedor, estilos de istrao, perfil estratgico, sistemas internos de comunicao e processos de aprendizagem e de gesto do conhecimento (Corbin, et al., 2007; Filippetti, 2011; Ibrahim et al., 2008; Kramer, et al., 2011; Romero,Martnez-Romn, 2011; Roper, et al., 2008; Vega-Jurado, et al., 2008) criam em cada organizao um perfil nico que determina, em partes, a capacidade para gerar internamente conhecimentos e se aproveitar de externalidades e transbordamentos para gerar inovaes. Partindo do pressuposto da complementaridade entre fatores internos e externos, Cohen e Levinthal (1990), baseando-se na literatura sobre aprendizado organizacional desenvolvido ao longo da dcada de 1980, introduzem o conceito de capacidade de absoro (CA) como a capacidade da firma em identificar, assimilar e aplicar novas informaes e conhecimentos externos para fins comerciais e, dessa forma, gerar inovaes. Desde o seu surgimento, o conceito de CA tem sido utilizado para explicao de fenmenos associados a aprendizado organizacional, relaes interorganizacionais e inovao (Lewin et al., 2010; Sun,Anderson, 2008; Volberda et al., 2010) . Sob essas perspectivas, o conceito de capacidade de absoro pode ser visto como integrador entre as fontes internas e externas de inovao, servindo como artifcio para o desenvolvimento de uma abordagem mais ampla na compreenso dos fatores que geram inovaes na firma (Sun,Anderson, 2008; Volberda, et al., 2010). Figura 1 Modelo conceitual para investigao de determinantes da inovao A capacidade de absoro consiste, entretanto, em um construto complexo, sendo operacionalizado na literatura a partir de formas distintas. Em sua concepo original (Cohen,Levinthal, 1990), a CA foi definida a partir de uma abordagem cognitiva de aprendizado, sendo influenciada por atividades internas de P&D da firma. Desenvolvimentos posteriores, entretanto, deram capacidade de absoro novas dimenses. Dentre essas dimenses, destacam-se: i) a expanso de determinantes internos da CA para alm das fronteiras do setor de P&D, considerando mecanismos internos de integrao social e formalizao de conhecimento (Vega-Jurado, et al., 2008), ii) o papel deempreendedores, es e outros colaboradores individuais na criao de capacidade de absoro (Calori et al., 1994; Volberda, et al., 2010) e iii) o papel das relaes interorganizacionais e fontes externas de conhecimento (Lane,Lubatkin, 1998; Sun,Anderson, 2008). No que tange s fontes internas e externas de conhecimento, Lewin et al. (2010) propam uma abordagem para rotinizao da CA, considerando capacidades de absoro internas, dependentes da estrutura organizacional, experincia ada, pessoas e incentivos, e externas, dependentes de sistemas de inovao e intensidade de P&D da indstria. Embora diversos trabalhos tenham buscado aprimorar o conceito de capacidade de absoro, trata-se ainda de um construto pouco compreendido (Lewin, et al., 2010). Dentre os principais desafios associados compreenso da CA no contexto da inovao, podem-se apontar a carncia de pesquisas qualitativas (Lane,Lubatkin, 1998) e longitudinais (Volberda, et al., 2010) e a falta de estudos que buscam o desenvolvimento de vises processuais para a capacidade de absoro (Lewin, et al., 2010). A abordagem proposta neste trabalho insere o conceito de capacidade de absoro como determinante para os resultados de inovao na firma. Para tanto, a CA descrita a partir da combinao de fatores internos e externos, tal como ilustra a figura 1. 4. Metodologia 266k27A pesquisa caracteriza-se essencialmente como sendo exploratria, qualitativa, longitudinal e baseada em procedimento de estudo de caso. O caso estudado compreende uma firma de pequeno porte que atua no desenvolvimento e comercializao de software para cartrios. O caso foi selecionado a partir de amostragem por julgamento (Malhotra,Birks, 2007) com base nos seguintes critrios: i) atuao no setor de software; ii) possui histrico de desenvolvimento de inovaes de software; iii) possui disponibilidade de oferecer informaes necessrias conduo da pesquisa. Dados foram obtidos a partir de entrevistas em profundidade, baseadas em roteiro semiestruturado, junto ao proprietrio e dois colaboradores envolvidos em atividades de desenvolvimento de inovaes na firma. Dados foram analisados no sentido de identificar eventos de inovao, conforme definio de tipos de inovao em software proposta por (Lippoldt,Stryszowski, 2009). Sob essa perspectiva, eventos de inovao foram identificados com base nos seguintes critrios: i) desenvolvimento e comercializao de novos produtos ou servios de software; ii) desenvolvimento e comercializao de novas caractersticas e/ou aplicaes para produtos ou servios de software j existentes ou iii) desenvolvimento e comercializao de melhorias em geraes anteriores de produtos ou servios de software. Para cada um dos eventos identificados, foram levantados e analisados os principais determinantes e suas configuraes que, na percepo dos envolvidos na firma, contriburam para o desenvolvimento das inovaes. A coleta e anlise de dados foram adas por um conjunto de construtos a priori (Eisenhardt, 1989), obtidos a partir da literatura e descritos no modelo conceitual deste trabalho. Tais construtos, bem como relaes hipotticas estabelecidas, serviram de base para investigao da presena e configurao de determinantes da inovao presentes no caso estudado. 5. Resultados 2t4a4t5.1 A Organizao Alpha 6z685eFundada em 1984, a Organizao Alpha, nome fictcio utilizado para fins de confidencialidade, uma empresa que atualmente concentra os negcios no desenvolvimento e comercializao de produtos e servios de software para cartrios. A trajetria da Organizao Alpha em relao ao seu principal negcio foi altamente influenciada pelo fim da reserva de mercado a empresas de informtica e automao, feito pelo Governo Brasileiro em 1991 (Lei no 8.248/91). A firma iniciou atividades atuando no setor de automao de presdios. Entretanto, com a abertura do mercado brasileiro de automao e informtica e a entrada de grandes concorrentes internacionais, a Organizao Alpha se viu forada diversificar a atuao, ando para o ramo de automao de cartrios. Dada a carncia de concorrentes para entrega de solues de automao para cartrios, com o tempo, esse novo negcio mostrou-se de grande rentabilidade, tornando-se a principal atividade da organizao. As solues atualmente desenvolvidas pela firma cobrem grande parte do territrio brasileiro, concentram-se em: i) automatizao de processos de Tabelionatos e Protestos; ii) automatizao de processos de cartrios de Ttulos e Documentos e Pessoas Jurdicas; iii) servios de comunicao entre Tabelionatos e bancos. 5.2 Eventos de inovao na Organizao Alpha 65c3mDados levantados na Organizao Alpha permitiram a identificao de quatro principais eventos de inovao, compreendendo um perodo de 1985 a 2011. Evento 1: desenvolvimento de nova soluo para automao de cartrios de Protesto O primeiro evento de inovao identificado consiste em um importante marco para a Organizao Alpha e ocorreu entre os anos de 1985 e 1991, com o desenvolvimento, pelo proprietrio da empresa, de um sistema destinado ao armazenamento e recuperao de informaes em cartrios de Protesto. A verso inicial do sistema foi desenvolvida em 1984 em plataforma DOS, utilizando linguagem Pascal e sistemas de arquivos para registro de dados. No incio, o sistema no foi desenvolvido para fins comerciais. A principal motivao do desenvolvimento foi o atendimento s necessidades do cartrio pertencente famlia do proprietrio da Organizao Alpha. At, ento, o negcio da Organizao Alpha concentrava-se na automao de presdios. Entretanto, com o fim da reserva de mercado, o proprietrio enxergou no sistema uma soluo para diversificao dos negcios da organizao. A entrada de concorrentes internacionais no ramo de automao de presdios fez com que o proprietrio se concentrasse no estreitamento de laos com potenciais clientes para o sistema de cartrios. Tal estreitamento ocorreu essencialmente atravs dos laos sociais que o proprietrio mantinha, por intermdio da famlia, com outros cartrios. De acordo com o proprietrio da Organizao Alpha, “naquela poca, a automao nos cartrios era nula, as demonstraes foram um sucesso, em um dia, vendemos mais de 13 sistemas e com isso, comeamos a enxergar o potencial desta soluo como um novo negcio para a Organizao Alpha”. Evento 2: melhoria do produto a partir de interfaces grficas. O segundo evento de inovao relaciona-se ao desenvolvimento de melhoria na gerao anterior do produto, identificada a partir do primeiro evento de inovao. Este evento foi motivado pelo desenvolvimento tecnolgico do setor de software; especificamente, pelo surgimento do sistema operacional Windows 3.1 e da plataforma Delphi de desenvolvimento. A partir da absoro dessas novas tecnologias pela Organizao Alpha, foi possvel desenvolver uma nova verso do produto a partir da incorporao de interfaces grficas, substituindo a operao baseada em linhas de comando da verso anterior. Evento 3: expanso para novas aplicaes e mercados O terceiro evento de inovao relaciona-se ao desenvolvimento de uma nova verso do produto, que possibilitou a expanso do escopo de aplicaes para cartrios de grande porte e para operaes que envolvem registro de Ttulos. Atravs da incorporao de um sistema gerenciador de banco de dados (SGBD) e outras tecnologias, foi possvel aumentar a capacidade do sistema em armazenar e processas grandes volumes de dados de grandes cartrios, alm de permitir o tratamento de imagens e aplicao para registro de Ttulos. Evento 4: desenvolvimento de novo servio de comunicao O quarto evento de inovao caracteriza-se pelo desenvolvimento de um novo servio, baseado em plataforma web e em computao de nuvem, para transmisso de informaes entre cartrios e bancos. Este servio possui complementaridade em relao aos produtos para automao de cartrios comercializados pela empresa e tem como objetivo criar um novo mecanismo para substituio de processos no automatizados de comunicao entre bancos e cartrios. 5.3 Configurao de determinantes da inovao na Organizao Alpha 4e6n1jDurante o estudo, foi possvel identificar tanto determinantes de origem interna quanto de origem externa para o desenvolvimento dos eventos de inovao na Organizao Alpha. Essencialmente, determinantes estruturais identificados associam-se a novos entrantes no mercado, trajetria tecnolgica do setor de software e redes de relacionamento entre cartrios. J os principais fatores determinantes internos identificados foram o know-how, a postura estratgica do empreendedor frente a inovao e sistemas de comunicao interna entre empreendedor e equipes de desenvolvimento. A tabela 1 descreve o papel individual de cada determinante da inovao identificado no estudo. Tal como previsto pelo modelo conceitual apresentado neste trabalho, a interao entre determinantes das dimenses interna e estrutural mostrou-se de grande importncia para o desenvolvimento das inovaes na Organizao Alpha. Ao analisar a interao entre os diferentes determinantes, observa-se a atuao do empreendedor como central para o processo de inovao na firma estudada. Foi possvel identificar que, no caso estudado, o empreendedor desempenha papel central tanto na articulao dos fatores estruturais - mercado, rede e trajetria tecnolgica - quanto na absoro e disseminao de conhecimentos necessrios ao desenvolvimento de inovaes na firma. No primeiro caso, empreendedor como articulador de fatores estruturais, observou-se que a postura do empreendedor frente a redes de notrios e demais envolvidos com tabelionato influenciada pela percepo dele em relao ao mercado. De acordo com o proprietrio da Organizao Alpha, “o mercado de cartrios bastante conservador, muitos clientes se recusam a mudar para novas verses do sistema”. Diante desse contexto, a estratgia de engajamento em redes da organizao aponta para o estabelecimento de relaes com os trs lados do negcio que envolve cartrios: bancos (Febraban), cartrios (Associao de Notrios) e corregedoria. Ao se relacionar com esses trs lados, a Organizao Alpha procura manter uma postura proativa a partir da participao em eventos e feiras, palestras para apresentao de novas vises sobre produtos e servios desenvolvidos pela empresa e demonstrao junto a clientes potenciais que integram a rede de relacionamentos. Esta postura proativa pde ser observada em todos os quatro eventos de inovao identificados, em que o empreendedor, influenciado em partes pela trajetria tecnolgica do setor de software, buscou levar as inovaes ao mercado. J no segundo caso, sendo o agente central da Organizao Alpha para engajamento com redes externas, o empreendedor desempenha o papel de absoro de novas demandas para gerao de novos produtos. Isto pde ser observado a partir do evento 4 de inovao, onde o novo servio foi desenvolvido a partir de demandas identificadas a partir do relacionamento do empreendedor com bancos e cartrios. O papel do empreendedor em identificar e absorver conhecimentos externos tambm pode ser identificado na relao desse com a trajetria tecnolgica. Especialmente no desenvolvimento dos eventos de inovao 2, 3 e 4, em que, respectivamente, a interface grfica, o sistema gerenciador de banco de dados universal e as plataformas web e computaes em nuvem foram assimilados pelo empreendedor e ados, atravs de sistemas de comunicao direta, para as equipes de desenvolvimento. De acordo com um dos colaboradores envolvidos na incorporao do SGBD ao produto (Evento 2), “o proprietrio liderou o desenvolvimento desse novo produto, especialmente em relao identificao da oportunidade e definio das tecnologias a serem utilizadas (...) ele tambm teve papel importante em ar para a equipe uma nova abordagem de desenvolvimento baseada em duas camadas, o que at ento era novidade para a nossa equipe.” Entretanto, embora o empreendedor seja central na absoro de conhecimentos externos para inovao, observa-se que o nvel educacional dos colaboradores, os sistemas internos de comunicao e representam importantes fatores que proporcionam demandas e conhecimentos externos serem traduzidos em solues e produtos a serem comercializados. Segundo o proprietrio, Organizao Alpha “conta com uma equipe de quinze desenvolvedores de nvel superior, o que facilita a absoro de novos conhecimentos sobre tecnologias e sobre o negcio de ttulos e tabelionato, a serem incorporados em novos produtos”. Adicionalmente, a locao de colaboradores e empreendedor em um nico ambiente cria um sistema de comunicao diria que proporciona troca e incorporao de conhecimentos em novos produtos. Neste ambiente, conhecimentos do empreendedor sobre tecnologias e sobre o negcio de ttulos e tabelionado e conhecimentos dos colaboradores sobre tecnologias so mesclados e compartilhados diariamente a partir de comunicaes informais e reunies com a equipe de desenvolvimento. Tabela 1 Influncia individual dos diferentes determinantes da inovao na Organizao Alpha
5. Concluso 4l5vnEste trabalho teve como objetivo investigar a configurao e relacionamentos entre diferentes determinantes da inovao em uma firma de pequeno porte que atua no setor de software. A partir do estudo qualitativo e longitudinal, foi possvel identificar que a gerao de inovaes em uma firma de software altamente dependente de fatores estruturais. No caso estudado, o mercado, as redes de clientes e as trajetrias tecnolgicas configuram-se como essenciais para a inovao, seja para a obteno de demandas por novos produtos, para a criao de canais de comercializao ou para oferecimento de oportunidades tecnolgicas aplicveis melhoria de produtos ou a criao de novos servios. No que tange configurao de diferentes determinantes da inovao, este estudo identificou que empreendedor desempenha papel central na articulao de fatores estruturais associados ao mercado, redes de relacionamento e trajetrias tecnolgicas. Dessa forma, a postura conservadora do pblico-alvo cria no empreendedor uma postura proativa em desenvolver e apresentar novas solues ao mercado. De modo a possibilitar estratgias proativas, insero da firma inovadora em redes de relacionamento se configura como um canal para comunicao com o pblico-alvo, proporcionando Organizao Alpha divulgar e apresentar novas solues para o ramo de tabelionato. Adicionalmente, a insero da firma em redes permite absorver conhecimentos sobre novas demandas para novos produtos. O empreendedor desempenha ainda papel central na absoro e disseminao de conhecimentos tecnolgicos e de mercado necessrios inovao. Entretanto, observa-se que o nvel educacional e capacidade tcnica das equipes de desenvolvimento e sistemas internos de comunicao configuram-se como fatores moderadores entre a capacidade do empreendedor e os resultados de inovao. A importncia dos fatores estruturais torna a capacidade de absoro um conceito de grande relevncia para se compreender os mecanismos que levam gerao de inovaes em uma firma. Neste estudo, identificou-se a figura do empreendedor como central, mas complementada pela presena de fatores estruturais - trajetrias tecnolgicas, redes de empresas e condies de mercado, e internos - sistemas internos de comunicao e nvel educacional de colaboradores. 5.1 Limitaes e trabalhos futuros 2c3b30Este estudo apresenta limitaes que devem ser consideradas ao interpretar e utilizar os resultados obtidos. Primeiro, a investigao baseia-se em dados qualitativos obtidos em uma empresa de software. Embora essa abordagem seja justificvel e interessante para a literatura, os resultados obtidos no so generalizveis, devendo ser interpretados luz do contexto em que foram produzidos. Nesse sentido, trabalhos futuros podem aplicar o modelo conceitual desenvolvido em diferentes contextos a fim de confirmar ou refutar os resultados aqui obtidos. Em segundo lugar, este estudo deixa algumas questes sem resposta. A evoluo dos relacionamentos do empreendedor junto a redes externas no foi tratada neste trabalho. Diante disso, pesquisas futuras podero investigar como se configuram o engajamento e o poder de empreendedores frente a redes externas a fim de aumentar a capacidade de inovao da firma. Referncias 1n5j14Corbin, R., Dunbar, C., & Zhu, Q. (2007). A three-tier knowledge management scheme for software engineering and innovation?. Journal of Systems and Software, 80(9), 1494-1505. doi: 10.1016/j.jss.2007.01.013 Lippoldt, D., & Stryszowski, P. (2009). Innovation in the Software Sector: OECD. Malhotra, N. K., & Birks, D. F. (2007). Marketing research: an applied approach. London: Prentice Hall. Nieto, M., & Quevedo, P. (2005). Absorptive capacity, technological opportunity, knowledge spillovers, and innovative effort. Technovation, 25(10), 1141-1157. doi: 10.1016/j.technovation.2004.05.001 Nonaka, I., & Tackeuchi, H. (1997). Criao de conhecimento na empresa: Como as empresas Japonesas geram a dinmica da inovao. Rio de Janeiro: Campus,. Souitaris, V. (2002). Technological trajectories as s. Research Policy, 31, 877-898. Varis, M., & Littunen, H. (2010). Types of innovation, sources of information and performance in entrepreneurial SMEs. European Journal Of Innovation Management, 13(2), 128-154. doi: 10.1108/14601061011040221 Vega-Jurado, J., Gutierrez-Gracia, A., Fernndez-de-Lucio, I., & Manjarrs-Henrquez, L. (2008). The effect of external and internal factors on firms’ product innovation. Research Policy, 37(4), 616-632. doi: 10.1016/j.respol.2008.01.001 Yin, R. K. (2009). Case study research: design and methods. London: Sage Publications. |
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