Larissa de Lima Trindade*, Kelmara Mendes Vieira**, Paulo Srgio Ceretta***, Everton Anger Cavalheiro**** 5o4x4u
Recibido: 20-07-2010 - Aprobado: 17-09-2010
RESUMEN: Este estudio tiene como objetivo examinar los factores determinantes en la propensin al endeudamiento en la regin central de la mujer occidental del Ro Grande. Para ello, se realiz una encuesta entre 2.500 mujeres. Los datos fueron recolectados a travs de cuestionario y analizados a travs de anlisis factorial, pruebas y anlisis estadsticos de regresin. Los resultados muestran siete factores, que son: Condicin social, la preocupacin, la estabilidad, Placer, Poder, de presupuesto, la ilusin, el materialismo y la voluntad de endeudamiento. Con un 39,1% explicacin de las variables explicativas muestran que los factores que interfieren con esta tendencia no slo son financieros y racional, sino tambin psicolgico y cultural. Palabras clave: genero, propencin al endeudamiento, mujeres |
ABSTRACT: |
Diante do consumo excessivo, muitos indivduos contraem dvidas e comprometem uma parcela significativa de suas rendas e acabam tornando-se inadimplentes por no cumprirem com seus compromissos financeiros. Nesta concepo, endividados trabalham para quitar suas dvidas por terem pouca ou nenhuma habilidade de lidar com o dinheiro, por no se preocuparem em fazer um planejamento financeiro ou por motivos implcitos em razes sociais ou psicolgicas. Muitos desses indivduos conseguem retomar o equilbrio de suas vidas, outros necessitam de ajuda e muitos tero que carregar consigo o estigma de eternos endividados (FERREIRA, 2006).
Especificamente no Brasil, o Instituto de Pesquisa de Endividamento do Estado de Fortaleza (PORTAL VIDA ECONMICA, 2007) realizou uma pesquisa sobre gnero e endividamento e constatou que as mulheres comprometem mais suas rendas do que os homens e atuam como principal comprador da famlia, no que diz respeito alimentao, roupas, rios e materiais diversos. Alm disso, h evidncias indicando que pessoas do gnero feminino apresentam maiores chances de incorrerem em um comportamento compulsivo de compra, aumentando ainda mais a propenso ao endividamento (D’ASTOUS, MALTAIS e ROBERGE, 1990; O’GUINN e FABER, 1989). Como justificativa, a literatura trabalha com a questo scio-cultural, de que as mulheres recebem desde a infncia uma educao mais voltada para as questes de beleza e de apresentao pessoal, o que pode ter uma influncia no seu comportamento futuro de compra.
Na medida em que ganham independncia financeira s mulheres so obrigadas a tomarem decises sobre consumo e consequentemente sobre endividamento. Zerrenner (2007) relata que o alto endividamento leva os indivduos a comprometerem seu oramento familiar e ainda provoca problemas de ordem psicolgica, levando o sujeito endividado torna-se vulnervel a incidentes tais como: separao, desemprego, problemas de sade, entre outros e pode chegar a impossibilit-lo de executar tarefas dirias.
O ato de comprar indiscriminadamente j considerado uma doena, conhecida por Oneomania, que difere da compra por impulso que ocorre quando o indivduo levado a comprar devido a uma atrao instantnea pelo produto seja pela embalagem, preo ou apelo da mdia. A Onemania constitui-se em uma doena obsessiva-compulsiva, que segundo o Instituto de Pesquisa do Ambulatrio do Jogo Patolgico e Outros Transtornos do Impulso (AMJO) mais comum em mulheres, sendo que no Brasil afeta quatro mulheres para um homem (OLIVATO e SOUZA, 2007).
Esta pesquisa buscou conhecer mais profundamente a realidade das variveis comportamentais, que determinam o processo de endividamento nas mulheres da Mesorregio Centro Ocidental Rio-grandense, principalmente a influncia dos valores, da renda, das variveis demogrficas, do trabalho e da cultura. Neste sentido tem-se como objetivos: identificar os perfis femininos mais representativos na regio pesquisada; medir a propenso ao endividamento; identificar as diferenas de propenso ao endividamento nas mulheres da Mesorregio pesquisada; determinar a influncia dos fatores comportamentais no processo de endividamento.
A Mesorregio Centro Ocidental Rio-grandense foi regio escolhida tendo em vista a diversidade cultural e a colonizao dos sujeitos pesquisados. Com uma populao de 541.027 habitantes espalhados pelos 31 municpios esta regio apresenta uma diversidade de culturas, basicamente em funo da colonizao que de prevalncia de italianos e alemes, o que contribui para os objetivos da pesquisa.
Destaca-se que o tema atual e constitui a agenda de discusso dos meios empresarial, acadmico e governamental. Do ponto de vista empresarial, os bancos e instituies financeiras se lanaram, principalmente nestes ltimos anos, na conquista da compreenso do comportamento da dvida. Sob o olhar do governo e das polticas pblicas, h o interesse de desenvolver o mercado de crdito como forma de incentivar a incluso social, reduzir desigualdades e contribuir para o crescimento econmico do pas. No mbito acadmico este estudo foco das teorias de consumo do Marketing, das Finanas e da Teoria dos Jogos (CARVALHO, ABRAMOVAY, 2004).
Segundo Ferreira (2006), endividamento tem origem no verbo endividar-se e significa fazer ou contrair dvidas. Para o Observatrio de Endividamento dos Consumidores da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (2002), o endividamento definido como sendo um saldo devedor de um indivduo e este pode resultar apenas de uma dvida ou de mais do que uma simultaneamente. (ZERRENNER, 2007). As causas do sobreendividamento apontadas pelo referido Observatrio so a marginalizao e a excluso social, os problemas psquicos, o alcoolismo, a dissoluo das famlias, as perturbaes da sade fsica e mental dos filhos e das famlias endividadas. Mas os problemas no afetam apenas o indivduo e seus familiares afetam tambm a economia, j que a proliferao dos casos de incapacidade de realizao dos compromissos financeiros afeta, alm do volume de crdito o crescimento da economia.
Na pesquisa realizada por Kosters et al (2004) sobre as causas do endividamento em cincos pases distintos, o desemprego foi a principal causa deste problema na Frana (42%), Alemanha (38%) e Blgica (19%). Nos Estados Unidos o uso do carto de crdito foi a principal causa (63%), j na ustria, a m gesto oramentria atinge 26% dos entrevistados (Zerrener, 2007). No Brasil a Sociedade de Proteo ao Crdito (SPC) e o Instituto de Economia Gesto Vidigal (IEGV) realizam pesquisas trimestrais sobre inadimplncia, no relatrio de dez anos de 1997 a 2007 o desemprego aparece em todos os anos como a principal causa da inadimplncia (SERASA EXPERIAN, 2007). Para Casado (2001, p. 7), o superendividamento “fruto da sociedade de massas, onde o consumo cada vez mais incentivado atravs de publicidades agressivas, geradoras de falsas necessidades”.
Segundo Katona (1975), existem trs razes que explicam por que uma pessoa pode gastar mais do que ganha: (i) baixa renda, de modo que nem sequer so cobertas as despesas essenciais, (ii) alta renda, combinada com um forte desejo de gastar, e (iii) uma falta de vontade para economizar (independentemente da renda). Seu estudo relevante, pois discute a origem dos problemas de crdito no somente a partir de fatores econmicos, mas tambm, por motivaes psicolgicas e comportamentais.
Moura (2005) criou uma escala de atitude para o endividamento. Esta escala foi desenvolvida especialmente para o contexto de grupos brasileiros de baixa renda. A escala compreende trs dimenses: impacto sobre a moral na sociedade - que engloba o patrimnio, valores e crenas encontrados em sociedade que tem uma influncia sobre a atitude do indivduo em relao ao endividamento; preferncia no tempo - inclui a escolha dos indivduos entre valor e tempo (adiar ou no adiar planos de consumo) e grau de auto-controle - inclui a capacidade para gerir os prprios recursos financeiros, a tomar decises financeiras e de manter o indivduo (ou famlia) oramento sob controle.
Ainda destaca-se nos estudos de Moura (2005) a influencia do materialismo no processo de endividamento. A autora utilizou a escala de Richins (2004) adaptada ao contexto brasileiro, que aborda trs dimenses para o materialismo. A primeira dimenso refere-se centralidade, ou seja, a importncia que os bens materiais exercem na vida do indivduo, assim quanto maior o apego aos bens, maior a manifestao da dimenso. A segunda refere-se satisfao e ao bem-estar proporcionado pela aquisio de bens, ou seja, a felicidade alcanada com o materialismo. J a terceira, o sucesso, isto , o valor do bem definitivo para a aquisio de status social. Os bens so valorados no por quanto geram de satisfao na vida, mas sim, pelo seu custo.
No Brasil, destaca-se ainda o estudo de Panchio (2006) que, visando identificar a influncia do materialismo no endividamento dos consumidores de baixa renda da cidade de So Paulo, constatou que, alm de variveis financeiras, variveis comportamentais explicam tal comportamento. Os indivduos mais jovens tendem a ser mais materialistas que os mais velhos; que adultos analfabetos tendem a ser menos materialistas que adultos tardiamente alfabetizados; e que gnero, renda e raa no se associam com materialismo. Entre as demais anlises, elaborou-se um modelo de regresso logstica para distinguir indivduos possuidores de carn de credirio dos no possuidores, com base no materialismo, em variveis scio-demogrficas, em hbitos de compra e em hbitos de consumo. O modelo proposto confirma o materialismo como varivel comportamental til na previso da probabilidade de um indivduo endividar-se para consumir, em alguns casos fazendo quase dobrar a chance de ocorrncia deste evento.
Compreender os fatores comportamentais que orientam as decises dos indivduos no uma tarefa fcil, pois estes envolvem muita subjetividade e incerteza, entretanto so peas fundamentais para justiar as mesmas. Panchio (2006) destacam que, apesar de herdarmos do modelo Platnico a idia de razo absoluta, muitas vezes, decidimos com base em informaes incompletas, que podem nos levar a muitos erros, e, isto no significa sermos irracionais. De fato, por maior que seja a racionalidade, ela sempre estar apoiada na intuio, nos valores e em outros fatores comportamentais do indivduo. Livingstone e Lunt (1992) destacam que complexo o nmero de variveis que podem explicar o endividamento, tais como: sexo, etnia, educao, histria familiar, renda, nmero de cartes de crdito, utilizao do carto de crdito e de ttulos de dvida, bem como variveis psicolgicas, como: locus de controle, autoestima e valores.
Para Moura (2005) o aumento das dvidas dos indivduos, seja por razes de recesso ou otimismo, gerou o aumento de pesquisas sobre o dbito em diversas reas. Portanto pode-se ultimar que o problema do endividamento, exige uma viso multidisciplinar. A Sociologia focaliza seus estudos aos fatores demogrficos, como idade, gnero, circunstncias familiares e classe social, a Economia preocupa-se mais com as relaes econmicas, e, a Psicologia focaliza o processo de tomada de deciso e os valores. O importante nesta temtica utilizar as variveis simultaneamente, identificando a magnitude de cada uma.
A deciso de tomar emprstimos, bem com a utilizao de carto de crdito, tambm j foram estudadas pelas Finanas Comportamentais e provaram influenciar as decises, limitando a racionalidade do indivduo. Segundo Block-Lieb e Janger (2006) no pagamento em dinheiro o limite de poder de compra tangvel, ao contrrio da utilizao do carto de crdito. O uso desse meio magntico, por exemplo, pode causar uma dissonncia cognitiva nos consumidores, j que estes no sentem em seu bolso o peso de pagar vista, e a fatura s chega em dias ou semanas.
O experimento de Soman (2001) a a proposio de que a dissonncia cognitiva pode levar o usurio de carto de crdito a gastar mais do que aqueles que pagam vista. Block-Lieb e Janger (2006) reforam a heurstica da ancoragem atravs do uso do carto de crdito, destacando que os indivduos s se perguntam se o valor da parcela cabe em seu bolso, isso exige um mnimo de clculo, porm impede com que o indivduo tome conscincia do custo do crdito ao final do perodo.
O excesso de confiana pregado pela teoria das finanas comportamentais um vis que faz com que as pessoas se endividem substancialmente, pois estes subestimam a probabilidade que eventos negativos que interrompam sua renda futura aconteam, tais como perda de emprego ou reduo substancial da renda (ZERRENNER, 2007).
Muitos autores j pesquisaram a influncia da cultura no dinheiro entre eles destacam-se: Jain e Joy (1997), Roca (2006), Reibstein, Burgoyne e Edmunds (2007), Falicov (2001) e Ards e Myers (2001). Jain e Joy (1997) desenvolveram um estudo etnogrfico com imigrantes asiticos residentes no Canad, com o objetivo de identificar o comportamento destes frente s decises de comprar e poupar, destacando a cultura Hindu, presente nos 36 profissionais pesquisados. De acordo com o Hindusmo, os indivduos devem tomar decises financeiras segundo uma viso de longo prazo, pensando sempre no futuro da famlia e dos filhos, o que os tornam mais tolerantes a riscos. Os autores confirmaram a influncia da cultura Hindu nos entrevistados e reforaram a teoria de que a cultura um fator determinante no comportamento financeiro dos indivduos.
Os estudos de Roca (2006) trazem a relao de dinheiro e religio, que durante dcadas, foi vista pelos cientistas sociais como coisas incompatveis. Em contrapartida, o autor, mostra que dinheiro sempre esteve presente na religio. A partir de um estudo desenvolvido no Brasil, o autor mostra a influncia do dinheiro na religio, na poltica e na modernizao. O autor estudou indivduos da igreja Neo-pentencostal brasileira e identificou que o dinheiro, alm de ser utilizado como forma divina, tambm e meio de promoo poltica e forma de gerar mais dinheiro.
A alta ou baixa religiosidade dos indivduos reflete-se de uma maneira geral em seus valores, ideologia e comportamento (LA BARBERA e ZEYNER, 1997). Em relao ao materialismo, indivduos intensamente religiosos tendem a valorizar qualidades espirituais e dar menor valor aos bens e s posses, apresentando comportamentos de compra mais racionais e menos impulsivos (LA BARBERA e ZEYNER 1997). Nessa mesma direo, Keng et al. (2000) encontraram nveis de materialismo mais baixos entre os cristos do que entre os indivduos sem afiliao religiosa. De maneira prxima, o materialismo apresentou associao negativa com os valores orientados para a coletividade, entendidos como os valores ligados religio, famlia e comunidade (BURROUGHS e RINDFLEISCH, 2002).
Falicov, assim como Ards e Myers (2001) analisaram as relaes entre raa e dinheiro, e o mito de que a comunidade negra americana tem maiores taxas de poupana e menores os ao crdito do que os brancos. Ambos os estudos trazem assuntos como a “discriminao do crdito”, “a cor do dinheiro”, bem como a relao da “cor nas decises financeiras”. Apesar de no acharem nenhuma significncia estatstica nesse mito, os autores sustentam que as diferenas observadas no mercado de crdito entre negros e brancos atribuda diferena de acumulao de riqueza. Os autores destacam ainda a influncia do mito na prpria comunidade negra na busca do crdito.
Vrias pesquisas tm estudado os comportamentos dos indivduos de diferentes descendncias para verificar a influncia destas. Por exemplo, Zinkhan e Karan (1990) examinaram diferenas no comportamento de risco em estudantes de descendncia espanhola e americana e entre homens e mulheres em ambas as amostras. Os resultados indicaram que os alunos espanhis se mostraram mais propensos do que os americanos.
Assim de acordo com as teorias sobre o tema elaborou-se um quadro resumido dos pressupostos que se espera do comportamento dos fatores comportamentais estudados.
Quadro 1 – Pressupostos do comportamento dos fatores do estudo.
Fatores |
Dimenses |
Estudo |
Expectativa na propenso ao endividamento |
Valores |
Status Social |
Schwartz(1992), Moura (2005); Panchio (2006) |
Positiva |
Preocupao |
Negativa |
||
Estabilidade |
Positiva |
||
Prazer |
Positiva |
||
Poder |
Negativa |
||
Oramento |
Positiva |
||
Iluso |
Negativa |
||
Renda |
Maior renda |
Brusky e Fontana (2002) Faag, Hallhan e Mckenzie (2003) |
Negativa |
Menor renda |
Positiva |
||
Aspectos demogrficos |
Mais velhos |
Furnham (1984) e Panchio (2006) |
Negativa |
Mais jovens |
Positiva |
||
Maior grau de instruo escolar |
Furnham (1984) e Panchio (2006) |
Negativa |
|
Menor grau de instruo escolar |
Positiva |
||
Casados |
Sung e Hanna (1996); Fagg, Hahhan e Mckenzie (2003) |
Negativa |
|
Solteiros |
Positiva |
||
Raa branca |
Falicov, Ards e Myers (2001) |
Negativa |
|
Raa negra |
Positiva |
||
Dimenses |
Estudo |
Expectativa na propenso ao endividamento |
|
Trabalho |
Empregados |
Perrelli e Toneli (2008) Cavalieri e Fernandes (1998) |
Positiva |
Desempregados |
Negativa |
||
Cultura |
Catlicos |
Roca (2006) |
Negativa |
Outras religies |
Positiva |
||
Ascendncia estrangeira |
Zinkhan e Karan (1990) |
Negativa |
|
Ascendncia brasileira |
Positiva |
* Universidade Tecnolgica Federal do Paran (UTFPR), Campus Pato Branco/PR E-mail:[email protected]
** Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: [email protected]
*** UFSM. E-mail: [email protected]
**** Universidade de Santa Cruz do Sul. E-mail: [email protected]
Vol. 32 (2) 2011
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