Espacios. Vol. 31 (2) 2010. Pg. 20 6r3412
Daniele Penteado Gonalves Braga*, Alexandre Xavier Vieira Braga** y Marcos Antonio de Souza***
Recibido: 19-11-2009 - Aprobado: 10-04-2010
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RESUMEN: El objeto de este estudio es identificar el desempeo y competitividad de las empresas pertenecientes a una red de agencias de viaje y turismo del estado de Rio Grande Do Sul, Brasil. Los indicadores fueron analizados de forma comparativa entre los perodos anterior y posterior al ingreso en la red. Los datos fueron recogidos durante el segundo semestre de 2008 mediante entrevista a profundidad con el Presidente de la red y cuestionarios respondidos por gestotes de 16 empresas integrantes de la red. Se utilizaron 32 indicadores que fueron identificados conjuntamente con los gestores de las empresas. Los resultados revelan que en la etapa de posterior al ingreso a la red hubo una mejora importante en 25 indicadores: 6 indicadores se mantuvieron sin cambio y slo un indicador arrojo resultados inferiores despus del ingreso de las empresas a la red. Palavras-chave: Redes empresariales. Indicadores. Desempeo y competitividad |
As micro, pequenas e mdias empresas (MPMEs) brasileiras representam parte significativa das empresas existentes no pas, com expressiva participao na gerao de empregos e na formao de renda. A constituio de rede tem sido um instrumento utilizado por elas para superar algumas dificuldades competitivas. Isso tem ocorrido por iniciativa prpria e por influncia de instituies de ensino, de organizaes governamentais e no governamentais.
As redes de empresas podem comportar a superao de algumas dificuldades das MPMEs, como por exemplo a escala de compras e produo, permitindo a diminuio de custos de materiais diretos e custos gerais de produo. H tambm aumento na competitividade obtida pela troca de informaes entre empresas do mesmo segmento, repercutindo no aumento de receitas e lucratividade.
O aumento da competitividade ocorrido nas ltimas dcadas atingiu a quase todos os setores, sendo o segmento de viagens e turismo um deles. Os estudos de Boegher e Yamashita (2005) e Dias e Pimenta (2005), fazem ampla abordagem a esse respeito. Diante deste cenrio de competitividade entre as organizaes, como estratgias diferenciadas de ao os gestores das agncias de viagens e turismo, visando assegurar a continuidade dos negcios via alcance de um melhor desempenho organizacional, constituram, em 2005, no Rio Grande do Sul, a Redetur, primeira rede de agncias de viagens e turismo do Brasil.
Entende-se que a busca pela cooperao atravs de estruturas organizacionais flexveis, descentralizadas e participativas, reflete a necessidade de uma adequao por parte das empresas, em termos de repensar as estratgias empresariais ainda aplicadas atualmente, destacando a importncia de identificar e analisar os diferenciais obtidos em seu desempenho a partir dessa forma organizacional. A par do reconhecimento quanto aos benefcios que decorrem da existncia de redes de empresas, h ainda questionamentos sobre os diferenciais de performance das empresas pertencentes a redes de cooperao.
neste contexto que se situa o objetivo deste estudo, ao procurar identificar quais os diferenciais de desempenho e competitividade de empresas de agncias de viagens e turismo obtidos a partir da participao delas em redes de cooperao. A hiptese assumida na pesquisa que as participaes das MPMEs em redes de cooperao melhoram o desempenho competitivo das mesmas.
Alm dessa introduo o estudo conta com uma seo sobre a Reviso de Literatura, seguida dos Procedimentos Metodolgicos; na quarta seo tem-se a Apresentao e Anlise dos Dados. O estudo encerra-se com as Concluses e as Referncias Bibliogrficas.
Os novos desafios ao desenvolvimento organizacional demandam uma constante busca por melhorias, exigindo competncias amplas das empresas. Cada vez mais a competio no ocorre entre empresas isoladas, mas sim entre cadeias produtivas e redes de empresas. Neste contexto, inovao e cooperao constituem a base do crescimento sustentvel.
Segundo Vigevani e Lorenzetti (1998), a globalizao, enquanto abertura e liberalizao dos mercados, no pode ser encarada como uma novidade absoluta, a no ser pela acelerao que promoveu e que tem como uma das suas principais causas o impulso dado pelas novas tecnologias. Para as empresas os riscos aumentaram, pois uma empresa qualquer, em algum lugar do mundo, a qualquer tempo, pode ar a produzir melhor e mais barato um mesmo produto do que outra concorrente. Alm disso, a qualquer tempo ela pode ter o aos mesmos mercados.
A esse respeito, e no mbito das empresas de menor porte, Casarotto Filho e Pires (2001, p.25) enfatizam que, “a globalizao cada vez mais acentuada dos mercados e da produo est pondo em questionamento a competitividade das pequenas e mdias empresas”.
Fazendo uma meno competitividade, Verschoore (2001) explica que sob as condies de concorrncia do novo paradigma competitivo tero destaque as organizaes voltadas ao aprendizado contnuo, dedicadas inovao e aptas a cooperarem. Miles, Snow e Charles (1992) acrescentaram que para lidar com esse amplo conjunto de exigncias competitivas, a alternativa estratgica organizacional que desponta desde o ltimo quarto do sculo ado a unio de um conjunto de empresas na forma de rede.
Castells (1999) afirma que as empresas de menor porte tornaram-se fortemente valorizadas no contexto produtivo e que isso est relacionado aos ganhos de competitividade das empresas, os quais foram viabilizados atravs de estratgias de cooperao.
Fleury e Fleury (2001) tambm tratam das estratgias cooperativas, enfatizando que a eficincia coletiva propiciada por diferentes tipos de arranjos empresariais foi evidenciada aos olhos ocidentais pelo sucesso japons nas dcadas de 1980 e 1990, no que diz respeito a redes e cadeias produtivas, e pelo sucesso italiano da chamada Terceira Itlia.
Dentro do ambiente competitivo atual, as empresas tm voltado a ateno para suas estratgias; desta forma, vrias alternativas se apresentam, dentre elas a participao em redes de cooperao. No segmento relacionado s empresas de turismo, as mudanas vm ocorrendo de maneira rpida e complexa, evidenciando a importncia das empresas compartilharem recursos no contexto em que esto inseridas.
Em nvel internacional existem experincias relatadas sobre os ambientes colaborativos entre empresas. Jarillo (1988) constatou que para ganhar vantagem competitiva algumas PMEs aram a formar redes de empresas em diversos pases.
Conforme enfatizado por Brusco (1996), os modelos de redes de empresas surgiram na Itlia, no final da dcada de 1970, por meio da evoluo dos distritos industriais da regio de Emilia Romagna. Nessa regio existem diversas experincias de empresas agrupadas por setores, cujo rpido crescimento foi desenvolvido de forma mais acentuada por aquelas de pequeno porte. Spaltro (1999) enfatiza que esse modelo italiano, denominado “capitalismo de redes”, definiu, na dcada de 1970, que as exportaes eram uma oportunidade de crescimento, e vrias MPMEs se juntaram formando uma rede de empresas. Este modelo manteve a individualidade de cada empresa, mas, simultaneamente, desenvolveu uma espcie de associativismo em que cada empresa ou a exercer funes compartilhadas de compras, produo, comercializao ou prestao de servio.
A partir desse exemplo, rgos governamentais e no governamentais aram a fomentar a formao de redes, adaptando-as s mais diversas culturas. A Organizao das Naes Unidas (ONU), por exemplo, possui aes para formao de redes em pases em desenvolvimento como Mxico, Jamaica, Honduras, El Salvador, Nicargua, Bolvia, Marrocos, Paquisto e ndia (UNIDO, 2001). No Brasil, as iniciativas do Servio de Apoio s Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2003) so reconhecidas e, no Rio Grande do Sul as MPMEs vm tambm recebendo o apoio da Secretaria de Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais - SEDAI, atravs dos programas de Capacitao Empresarial e Redes de Cooperao, com a co-participao de Instituies de Ensino Superior - IES (SEDAI, 2004b).
Segundo a SEDAI (2004b), as redes de cooperao so uma forma de organizao na qual a concorrncia cede espao parceria com o objetivo de beneficiar as empresas participantes, seus fornecedores e consumidores. Nesse sentido, conforme Gulati, Nohria e Zaheer (2000, apud VERSHOORE, 2001, p.12) “a imagem de atores atomsticos, competindo por lucros uns contra os outros em mercado impessoal, cada vez mais inadequada em um mundo onde as firmas esto imbricadas em redes de relaes sociais, profissionais e transacionais com outros atores organizacionais”.
No Brasil existem vrios exemplos de redes de empresas, em diversos segmentos, como comrcio, indstria e servios; contudo, no Estado do Rio Grande do Sul que houve maior desenvolvimento. O governo gacho criou o Programa Redes de Cooperao como forma de incentivar estratgias cooperativas entre empresas a partir de 2000. O Programa utilizou-se das IES, as quais, com tcnicos treinados pela SEDAI implementaram redes de cooperao em suas respectivas regies. O programa j atende mais de 150 redes, compreendendo um nmero superior de 3.500 empresas no estado (SEDAI, 2004a).
Ainda conforme dados da SEDAI (2004a), o estado do Rio Grande do Sul tornou-se pioneiro nessa forma organizacional, ando a concentrar o maior nmero de empresas participantes em redes do Brasil, e congrega o maior nmero de redes de empresas no Brasil.
Para Verschoore (2006) o Programa Redes de Cooperao do Governo do Estado do Rio Grande do Sul destaca-se por ser uma poltica pblica direcionada a promover um desenvolvimento sustentado, com base em pequenas e mdias empresas, atravs do empreendimento de aes voltadas ao fomento da cooperao e superao dos entraves formao e evoluo de redes entre empresas. Parte das redes de cooperao gachas nasceu da necessidade de micro e pequenas empresas em encontrar alternativas inteligentes de melhorar os seus negcios. Diante das ameaas de competidores mais fortes, empresrios que antes atuavam apenas como concorrentes mantm agora relaes de cooperao e compartilham estratgias comuns, cujo objetivo potencializar ganhos comuns (SEDAI, 2006).
O tratamento conjunto de redes de empresas e relaes interorganizacionais ou a ser freqente na literatura sobre gesto organizacional. A esse respeito, e de acordo com Julien e Marchesnay (1990), o conceito de redes vem concretizar o nvel de relaes interorganizacionais e propor o enfoque de sistemas de relaes mltiplas que superam os antagonismos locais com a elaborao de programas integrados em parceria com os poderes pblicos territoriais e nacionais.
A partir da simples conceituao de rede como um conjunto de ns interconectados, Castells (1999), destaca a variada gama de definies possveis, conforme o enfoque de anlise. Isso j estava presente no estudo de Casson e Cox (1997, p.13), para os quais “Redes significam coisas diferentes para pessoas diferentes”. Dunning (1998) exemplifica que para os economistas, uma rede simplesmente uma teia de relaes bilaterais interdependentes. Todavia, conforme j defendia Baker (1992), a presena de relacionamentos no suficiente para um claro e distintivo conceito de rede, pois, tomando-se apenas a existncia de conexes entre agentes, todas as organizaes seriam redes. Torna-se necessrio a agregao de outros elementos definidores, como a noo de objetivos comuns, possveis de serem alcanados atravs de prticas cooperativas. Assim, conforme Rosenfeld (1997, p.32), as redes “so atividades colaborativas de negcios realizadas por distintos grupos, usualmente pequenos grupos de firmas no intuito de gerar vendas e lucros atravs, por exemplo, de exportao em conjunto, P&D, desenvolvimento de produtos e soluo de problemas”.
Dentro do ambiente das redes empresariais h o processo de aprendizagem e troca de informaes, no qual o fluxo de conhecimento adquirido por parte das empresas participantes, que a a ser um diferencial. A partir da idia de Nohria e Ghoshal (apud OLIVEIRA JR. et al, 2001), o fluxo de conhecimento pode ser fortemente incrementado se a abordagem de rede for aplicada para a istrao de empresas, principalmente para aquelas que possuem uma atuao global. Por outro lado, as pequenas empresas, com reduzida economia de escala, se organizam para manter a competitividade. Pesquisadores dessa temtica tm defendido que vive-se um momento em que a forma tradicional de anlise estratgica de empresas corre o risco de no corresponder melhor interpretao da realidade. H destaques de que em muitos casos no se pode mais analisar empresas seguindo modelos dominantes, como o da escola de posicionamento de Porter (1990), sem levar em considerao a rede de relacionamentos na qual elas se inserem.
Wegner (2005) tem defendido que as organizaes empresariais so constitudas em funo do estabelecimento e cumprimento de determinados objetivos econmicos e/ou sociais. Nesse sentido, surge a necessidade dos es em encontrar indicadores de desempenho e ferramentas de avaliao que possibilitem a comparao dos objetivos traados com o desempenho alcanado, a fim de avaliar a eficcia de suas estratgias.
Como afirmam Luitz e Rebelato (2003), entre os motivos que levam as organizaes a medirem seu desempenho est possibilidade de comparaes com os concorrentes ou empresas de outros ramos, alm da possibilidade de verificar se as estratgias esto sendo cumpridas e gerando resultados. Alm disso, acrescenta-se que a medio do desempenho tambm permite organizao analisar o seu prprio desempenho no decorrer do tempo, seu desempenho atual em relao ao ado, assim como desenvolver projees de resultados futuros.
Mais especificamente no caso das redes de empresas, Wegner e Dahmer (2004) afirmam que a problemtica da avaliao de desempenho precisa ser analisada, considerando-se a existncia de um contexto em que a individualidade das empresas convive com a coletividade da rede. No s as empresas que participam da rede precisam utilizar indicadores para a sua avaliao, como tambm a prpria rede precisa ser corretamente avaliada, j que as duas dimenses se inter-relacionam e se modificam mutuamente.
A literatura tem mostrado que, no ado, as empresas tomavam decises baseadas apenas em informaes financeiras, obtidas da contabilidade das empresas (ECCLES, 1991; MASKELL, 1991). Foi dessa necessidade que procedimentos sobre a anlise de demonstraes contbeis foram desenvolvidos e so largamente utilizados (ASSAF NETO, 2003). No entanto, Frost (1998) explica que as medidas financeiras isoladamente no so mais suficientes para ajudar os gestores a dirigirem as atividades do negcio em tempo real, dia aps dia. Poage (2002) destaca que as medidas de desempenho tm que produzir informaes teis, defendendo tambm o uso de medidas no financeiras, ratificado por Ernst Young (1995), Oliveira (1998), Kaplan e Norton (1996), Ghalayini e Noble (1996).
Kaplan e Norton (1996) reconhecem a importncia dos indicadores financeiros como sntese final do desempenho gerencial e organizacional, mas advogam a necessidade do sistema de medio incorporar um conjunto de medidas mais genrico e integrado ao sucesso financeiro em longo prazo, vinculando o desempenho sob a tica dos clientes, processos internos, funcionrios etc. Portanto, crescente a intensificao do uso de medidas genricas de desempenho, como forma de obter maior controle das atividades da empresa.
No que diz respeito aos modelos adotados para a avaliao do desempenho e competitividade empresarial, a literatura apresenta, geralmente, a discusso de indicadores de eficincia, eficcia, qualidade e produtividade. Leo (2004) cita alguns desses modelos e os respectivos autores, conforme descrito a seguir:
Ao articularem os resultados desejados pela empresa com os vetores dos mesmos, os executivos esperam canalizar as energias, as habilidades e os conhecimentos especficos das pessoas na empresa como um todo, a fim de alcanar as metas de longo prazo.
Sendo assim, torna-se interessante analisar a performance das empresas pertencentes rede de agncias de viagens e turismo sob premissas qualitativas e quantitativas; tanto indicadores financeiros como no financeiros refletem a gesto empresarial, porm sob aspectos distintos, considerando-os complementares em termos de informao.
* Faculdade Atlntico Sul, Pelotas, Brasil E-mail: [email protected]
** Universidade Federal de Pelotas E-mail: [email protected]
*** Unisinos E-mail: [email protected]
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